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A Ciência e a Tecnologia em tempos de negacionismo

  • Foto do escritor: Rogério Baptistini Mendes
    Rogério Baptistini Mendes
  • 1 de jun.
  • 3 min de leitura

Entrevista concedida à repórter Melissa Rocha, do site Sputinik Brasil, em 15 de abril de 2025, sobre o fenômeno da fuga de cérebros e os investimentos do governo Lula em Ciência & Tecnologia.

Trechos foram utilizados na matério intitulada "Em apenas dois anos, Brasil passou a investir 6 vezes mais em Ciência & Tecnologia". Pode se ler lida aqui: Em apenas 2 anos, Brasil passou a investir 6 vezes mais em ciência, diz ministra à Sputnik - 15.04.2025, Sputnik Brasil


César Lattes, físico brasileiro codescobridor do méson-π (méson pi ou píon)
César Lattes, físico brasileiro codescobridor do méson-π (méson pi ou píon)

Sputinik: Recentemente, a ministra de Ciência e Tecnologia anunciou que o governo Lula vai criar um programa específico para atrair de volta para o Brasil pesquisadores brasileiros nos EUA e na Argentina. A intenção é reverter a chamada fuga de cérebros. Em sua avaliação, por que pesquisadores brasileiros optam por deixar o país? Qual a causa da fuga de cérebros?

Rogério Baptistini: Em geral, as pessoas emigram em busca de oportunidades ou para fugir da violência e da perseguição. Com os pesquisadores a situação não é diferente.

Desde o início do governo, Bolsonaro e seu superministro da Economia, Paulo Guedes, criaram, ainda que sem intenção manifesta, dificuldades para os cientistas. Durante o primeiro ano de mandato, entre 2019 e 2020, por exemplo, o corte nos investimentos fez com que o Brasil despencasse 25 posições entre os países que mantinham profissionais qualificados em ciência e tecnologia, caindo da posição 45 para a posição 70 no ranking de competitividade de talentos, conforme estudos de instituições francesas, com ampla divulgação à época. 

Não bastasse, o incentivo às ofensas e às perseguições contra pesquisadores, relacionadas ao negacionismo climático e da pandemia da covid-19, tornou o ambiente insustentável.

A redução dos investimentos, a perseguição pública e a situação de desprestígio a qual foram relegados pelo governo Bolsonaro, explica o êxodo.

 

Sputinik: Em um artigo recente, os presidentes da Academia Brasileira de Ciências e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Helena Bonciani e Renato Janine Ribeiro, afirmaram que investir em ciência impulsiona a economia, e citaram que EUA e China vêm ampliando o investimento no setor, no caso de Pequim 2,5% do PIB. Atualmente, o Brasil investe cerca de 1,1% do PIB em pesquisa e desenvolvimento. Como o investimento em ciência incentiva a economia?

Rogério Baptistini: Em 2024, a China assumiu o 11º lugar entre as economias mais inovadoras do mundo, conforme o Índice Global de Inovação, divulgado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). O investimento do país em ciência e tecnologia, no ano de 2023, foi de aproximadamente 452,1 bilhões de dólares. Boa parte dos recursos foi orientada para as pesquisas nas áreas de inteligência artificial, biotecnologia, energias renováveis e infraestrutura digital. O objetivo é ser líder global.

O Brasil enfrenta desde meados do século passado o desafio do desenvolvimento, buscando aumentar a renda per capita e se tornar uma sociedade de consumo em massa com um mercado pouco afetado pelos ciclos externos da economia. Neste sentido, o investimento em ciência e tecnologia é fundamental, pois promove a inovação, melhora a produtividade e cria tecnologias e indústrias. A oposição à ideia geralmente decorre de falta de compreensão ou interesses contrários ao progresso.  E, infelizmente, ambos atuam nos dias de hoje, prejudicando a educação, a pesquisa e a formação de talentos de que tanto o país necessita.

Para alcançar o desenvolvimento, gerar empregos qualificados e solucionar os problemas sociais que tanto nos afligem, o Brasil pode adaptar o modelo chinês às suas próprias necessidades, considerando as diferenças culturais, econômicas e políticas.

O Brasil tem potencial para reverter a fuga de cérebros com investimentos estratégicos e políticas públicas eficazes.

 

Sputinik: O investimento em ciência e pesquisa pode contribuir para amortecer os impactos da crise, sobretudo no preço dos alimentos?

Rogério Baptistini: Investimentos em ciência e tecnologia têm impacto limitado no curto prazo sobre a redução do preço dos alimentos. Isso ocorre devido a fatores como o tempo necessário para implementar projetos e formar a mão de obra qualificada, que representam obstáculos às soluções imediatas. Além disso, o mercado desses produtos é globalizado, e os preços são influenciados por fatores externos, como aumento no custo dos insumos, demandas internacionais, conflitos e outras variáveis.

Ainda assim, a pesquisa desempenha um papel crucial no longo prazo, promovendo o aumento da produtividade agrícola, aprimorando a eficiência no transporte e armazenamento, desenvolvendo alternativas sustentáveis e reduzindo a dependência dos ciclos sazonais. Esses avanços beneficiam diretamente a sociedade, os produtores e os consumidores.

 


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