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  • Foto do escritorRogério Baptistini Mendes

A Indústria e a saúde do trabalhador

Entrevista concedida para o Blog da Associação Brasileira de Qualidade de Vida -ABQV, em julho de 2024, sobre a indústria e o cuidado com a saúde do trabalhador.

Operários da siderurgia


ABQV - A indústria é responsável pela geração de mais de 9,3 milhões de postos de trabalho no Brasil, ou 20,3% de todos os empregos formais do país. É possível dizer que a indústria brasileira nos últimos anos passou a se preocupar e cuidar mais da saúde do seu trabalhador? Como e por quê?

Rogério Baptistini - É visível a atenção que a saúde e a segurança do trabalhador recebem no setor industrial brasileiro. A legislação evoluiu bastante e os próprios empresários e executivos passaram a atentar para o bem-estar dos trabalhadores, considerando não somente os custos da doença ocupacional ou do acidente, mas os ganhos de produtividade gerados por um ambiente seguro e saudável. E é preciso considerar, igualmente, os ganhos de imagem para o negócio.

 

ABQV -  O que fez este cenário mudar?

Rogério Baptistini - Eu diria que o marco é a Constituição de 1988, que situou a saúde como Direito Universal. É importante, porém, ressaltar a influência da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) na mudança do enquadramento da saúde dos trabalhadores, passando do conceito de saúde ocupacional para o abrangente de saúde no trabalho, que incorpora a relação saúde-trabalho de forma abrangente, envolvendo os fatores econômicos, culturais e individuais.


A Constituição de 1988 e o novo enquadramento conduziram à institucionalização da saúde do trabalhador no Sistema Único de Saúde (SUS) e à criação – não nessa ordem e nem de forma linear- dos Programas de Saúde do Trabalhador nos estados e nos municípios. Estes foram incorporando, ao longo do tempo, a adesão de entidades representativas do setor empresarial, o que culminou na disseminação de uma cultura favorável. O problema é que muita coisa não se consolidou. As mudanças políticas e econômicas e a incompreensão da importância do tema por parte de alguns atores constituem obstáculos ainda hoje e nos mantém em uma situação de relativo atraso, apesar dos avanços.


ABQV -  Quais são os principais problemas que as organizações enfrentam para a promoção da qualidade de vida dos seus trabalhadores? E para os colabores, o que falta as indústrias fazerem para que o cuidado seja efetivo?

Rogério Baptistini - Eu diria que do ponto de vista das organizações há um problema principal, relacionado às exigências de apresentar resultados econômicos de curto prazo, típico da nova dimensão assumida pela economia flexível. Isso inviabiliza programas de saúde, segurança e bem-estar, pois rompe a história dos colaboradores dentro da organização, quebra os vínculos.


Para os colaboradores, a insegurança produzida por uma economia de tempo curto gera ansiedade e desconfiança. O trabalho perde o sentido e o ambiente se torna fonte de doença.


É evidente, porém, que o problema não atinge apenas o setor industrial e, tampouco, o brasileiro. Os padrões produtivos mudaram radicalmente em todo o mundo e as instituições da sociedade estão sofrendo alterações. O mundo do trabalho sofre as consequências, com impactos sobre a saúde dos seus membros, em que pese os esforços das organizações mais atentas.

 

ABQV -  Na sua opinião, qual o diferencial que esse tipo de empresa pode agregar à promoção da saúde de trabalhadores brasileiros?

Rogério Baptistini - As empresas do setor industrial contribuem para a promoção da saúde dos brasileiros fazendo o que já fazem, que é o cumprimento da legislação existente. Além disso, podem agregar investimentos em programas de formação e qualificação para os colaboradores, de forma que estes se habilitem a compreender e enfrentar o novo mundo que surge. Afinal, a promoção da saúde também reclama um ser humano consciente de sua condição e do seu tempo.

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