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  • Foto do escritorRogério Baptistini Mendes

Brasileiro tipo exportação

Entrevista concedida à jornalista Emanuelle Bordallo, d'O Globo, em março de 2024. Foi utilizada na matéria intitulada Brasileiro tipo exportação, publicada na edição de 31 de março de 2024.

Stefan Zweig, autor de Brasil, país do futuro (1941)


O Globo - Quais são os fatores sociais que influenciam o maior fluxo de emigração brasileira na última década?

Rogério Baptistini - As pessoas emigram em busca de oportunidades, da vida que julgam que lhes é negada no local de origem. Assim também é com os brasileiros, que deixam o país em busca de melhores empregos, melhores salários e mais segurança.

O fenômeno, que teve início nas décadas de 1980 e 1990, retornou e tem se acentuado, acompanhando a percepção que a juventude e a classe média têm da terra.

De certa forma, o Brasil deixou de ser percebido como o país do futuro e uma terra de oportunidades. E as elites, sobretudo as políticas, não tem conseguido apresentar um projeto que resgate a confiança da sociedade.


O Globo - Nos dados dos últimos 10 anos, temos dois anos que se destacam pelo grande fluxo de saída de brasileiros: o primeiro deles é 2013 (com um aumento de 48% em relação ao ano anterior), o segundo maior ano é 2020 (17%). O senhor poderia analisar os possíveis motivos conjunturais que podem estar por trás desses números nesses anos?

Rogério Baptistini - Em 2013, o consumo das famílias registrou aumento pelo décimo ano consecutivo, mas foi o menor desde 2003. As pessoas que haviam ascendido socialmente e formado uma “nova classe média” durante o decênio anterior passaram a conhecer dificuldades para manter a posição conquistada.

Fatores externos e internos contribuíram para a desaceleração do crescimento da economia brasileira, mas foram os domésticos, dinamizados no ciclo de protestos iniciados em junho daquele ano que abriram as comportas da decepção e redundaram na crise que abalou todo o sistema da representação, com consequências evidentes sobre a confiança no país e em seu destino.

É possível afirmar, sem temor ao exagero, que as pessoas estão saindo em busca de emprego, renda e segurança. Assim foi em 2020, 2021. Essa emigração é devida ao que pode ser qualificado como morte da esperança, ou seja: as pessoas já não esperam do futuro aqui e não confiam nos políticos que lhes prometem.

O problema é de percepção.


O Globo - Quais são os efeitos (negativos e positivos) que esse aumento no número de pessoas deixando o Brasil deixam no país?

Rogério Baptistini - Ser um lugar de onde as pessoas saem, sobretudo os jovens, para construir a vida em outro sítio, não é positivo! Significa que a sociedade política que configura o Estado está em crise e precisa ser reformada, com urgência.

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